Todas as fronteiras, um jogo

A Menina do Pássaro Tinta acrílica sobre placa acrílica, 179x53 cm.

Todas as fronteiras, um jogo

O mais interessante no trabalho artístico é abrir portas, cruzar clandestinamente fronteiras, criar pontes onde só existiam precipícios. O desejo de entrar nesse jogo de todos os jogos tem vindo a intensificar-se com o tempo, não se perdeu o impulso primeiro. Perante as portas, fronteiras e precipícios que olho à minha frente, transponho as fronteiras humanamente possíveis. É um dos rostos trágicos da criação.

Nesta exposição, em particular, o factor mais evidente, neste processo de busca e experimentação com o novo, foi o diálogo com diferentes suportes: quis que a placa acrílica, a rede de arame e o vídeo entrassem em sintonia com a pintura a óleo. Quis também explorar formatos que não se cingem ao rectângulo tradicional, levando-me a desnudar, em três casos, a figura do seu fundo. Finalmente, diverti-me a cruzar clandestinamente fronteiras ocultas: as conceptuais. Por entre elas, instauro um diálogo anacrónico com os Mestres. São conversas sobre a modernidade com pessoas pelas quais sinto especial carinho: Vincent Van Gogh, Jan Vermeer e Georges La Tour. A segunda transgressão, de humor, é reflexiva surrealista do acto criador. É, precisamente, esta temática aberta ao inesperado do diverso que é o fio condutor desta exposição.

Como a Arte é sobretudo Linguagem, expor é gerar correntes criativas de comunicação que nos convidam a entrar no jogo. Que assim seja.

Marcos Milewski